sábado, 16 de abril de 2011

Lula ironiza FHC e diz que 'todos brasileiros são do povão'


Lula está na Europa para cumprir agenda no Reino Unido e na Espanha. Foto: Ulisses Neto/Especial para Terra Lula está na Europa para cumprir agenda no Reino Unido e na Espanha
Foto: Ulisses Neto/Especial para Terra

Ulisses Neto
Direto de Londres
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu em Londres, nesta quinta-feira, as recentes declarações de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Em artigo publicado nesta semana, FHC escreveu que se os tucanos continuarem tentando dialogar com o "povão", acabarão "falando sozinhos". Na opinião dele, o PSDB deve investir "nas novas classes médias".
Para Lula, as afirmações foram incompreensíveis. "Eu, sinceramente, não entendi o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que disseram preferir cheiro de cavalo do que de povo. Agora, tem um ex-presidente que fala para não ficar atrás do povão, esquecer o povão", disse o petista, citanto declaração do general João Batista Figueiredo, o último presidente durante a ditadura militar.
Lula foi além, e disse: "Não sei como alguém que estudou tanto, depois diz que quer esquecer do povão. O povão é a razão de ser do Brasil. E do povão fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres, porque todos são brasileiros".
Oposição
O ex-presidente afirmou que o PT saiu ainda mais fortalecido das últimas eleições e que isso está incomodando a oposição. No entanto, ressaltou que isso faz parte do processo democrático e lembrou que também já esteve do lado enfraquecido. "O governo não engoliu a oposição. O que aconteceu é que ele saiu mais forte do processo eleitoral. Mas isso é assim mesmo. Eu já fui oposição com apenas 16 deputados. Ou seja, também já fui pequeno", destacou.
Lula ainda declarou que "a oposição precisa saber que o povo brasileiro não aceita mais uma oposição vingativa, com ódio, negativista. O que o povo brasileiro quer é gente que pense com otimismo no Brasil. Afinal de contas, a gente conquistou um ponto de auto-estima que não pode recuar mais. E é isso o que a oposição não compreende".
Discurso
O antecessor de Dilma Rousseff discursou nesta manhã na capital do Reino Unido para investidores e acionistas do Grupo Telefonica. Durante o evento, Lula destacou as oportunidades de investimento na América do Sul e o desempenho da economia brasileira nos últimos anos.
Sobre a escalada da inflação, o ex-presidente disse não estar preocupado e destacou que a meta de 4,5% estabelecida em seu governo prevê margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo. "Por isso estamos dentro da meta e a presidenta Dilma já tomou as medidas para controlá-la. Não tenho medo que a inflação volte", garantiu.
Lula deixa a capital britânica no início da tarde de hoje com destino a Espanha. No país, ele recebe o prêmio Libertad na sexta-feira. Na sequência, terá encontros privados com o presidente do Grupo Telefonica, Cesar Alierta, e com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Ele fica em Madrid até sábado e vai acompahar a partida entre Real Madrid e Barcelona, no estádio Santiago Bernabéu, pelo Campeonato Espanhol. O ex-presidente embarca de volta para o Brasil na mesma noite.
Oxfam e Hobsbawn
Lula iniciou sua agenda em Londres com um almoço na quarta-feira com o embaixador do Brasil no Reino Unido, Roberto Jaguaribe, e com diretores de estatais brasileiras na Inglaterra, entre elas, Petrobras, Banco do Brasil e BNDES. À tarde, o ex-presidente recebeu a diretora da ONG inglesa Oxfam, Barbara Stocking. No encontro, realizado na residência oficial da embaixada, ela convidou Lula para participar da próxima campanha da entidade que atua em cerca de 90 países.
O ex-presidente ainda discutiu ações de combate à pobreza na África e manifestou interesse em levar ao continente as políticas adotadas em seu governo na tentativa de erradicar a fome. A presidente da Oxfam também declarou que a organização não-governamental pretende abrir um escritório no Brasil para ampliar as atuações que já mantém no País por meio de parcerias com agentes locais.
Na sequência, Lula se reuniu com o historiador Eric Hobsbawm, 94 anos. No encontro, que durou cerca de uma hora e meia, eles discutiram a grave crise financeira da Europa e o papel dos partidos de esquerda no continente. Também falaram sobre a agenda que o líder brasileiro deve adotar em relação à política internacional. "O papel de Lula no momento é bastante claro, e ele sabe disso. Tendo passado o poder para a presidente, ele não deve ficar no caminho dela", disse.
"Ele deve se concentrar em questões diplomáticas e em outras atividades ao redor do mundo. Eu acredito que Lula tem grandes ambições em seus projetos para cooperação entre o Brasil e a África e, certamente, ele não será um presidente que vai cair no esquecimento", completou Hobsbawn, que se diz amigo pessoal de Lula. Os dois se conhecem desde 1992.
Especial para Terra

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